PÁ E CHÃO

A paixão torna o coração ingênuo

Faz acreditar que tudo é possível

Numa cegueira tosca e convincente

De que tudo pode dar certo sem conseqüência

De que é fácil consertar o errado

E transformar tudo que se encontra imperfeito

Um sentimento que todos desejam

E desejam nunca acabar

Pois quando acaba esta dor fantasia

Retorna a dor que a cegueira escondia

Do que é real e preciso encarar

Mas esta dor eu sei, é precisa

Pois como o fogo que o ferro modifica

Ou o estilete usado para esculpir

É ferramenta que a vida utiliza

Para o ser humano evoluir

Desenho de Priscila Tonon

ELA

Ela é linda e é do bem

E sei que tudo que ela tem

Vem dos olhos dela

Ela olha e suspira

Aí sorri ou se inquieta

com o que viu

Ela vê,  transvê e não sossega

Ela olha, observa, e não se apega

ao simples parecer ser

Nada é só aquilo que se vê

Tudo tem muito mais a perceber

e ela parece não deixar nada passar

Ela é feita de leveza e grandeza

E a criança que mora dentro dela

É um menino homem

codinome Miguel.

NATIELE

Garota de olhos oblíquos e singular

Olhos de gato que tanto mistério parece guardar

Mas por trás da astúcia e sedução de felina

É fácil ver o encantamento de menina

Suas dúvidas e certezas

São tão difusas como as cores de seu olhar

Mistura de pensamentos e desejos

Mistura de tons a embaralhar

Seus pensamentos se enrolam

Sem seguir nenhum enredo

Enquanto enrola o cabelo

Em seus delicados dedos

O que será que ela pensa

Quando parece nada pensar?

Pra onde é que ela transcende

Quando se ausenta deste lugar?

E quando meiga ela vem

Meu dia iluminar

Não há nuvem que impeça

A sua luz de me alcançar.

COMO FEIJÃO E ARROZ

Eram como arroz com feijão: combinação perfeita

Feitos um para o outro como arroz com feijão

Como arroz e feijão eles se completam.

Casamento inquestionável...

Até que o arroz foi ser sushi

E o feijão, depois de muito bater o pé

bolinho pra acarajé

E quem os vê hoje em dia

De certo não acreditaria

Que já formaram um par perfeito

De nenhum nutricionista botar defeito.

DORMIR, MORRER, SONHAR...

 DORMIR,

MORRER,

SONHAR...

Será viver em outro lugar?

No sonho eu construo

o que, acordada

Não me permito pensar.

E me agradam pessoa

que, acordada

Não posso acreditar.

Mas o sonho parece

um lugar bem seguro

[até de mim mesmo]

Para te encontrar...

E, se acordada,

lembrar do meu sonho

e tentar entender

Talvez me assuste

com o que este sonho

possa parecer ser.

Talvez ele tente me convencer,

Que és a verdade

das minhas vontades

Mas só me convence

Que o inconsciente

é uma gaveta de bagunças esparramadas

da qual junto peças

e tento construir

algumas coisa concreta

ou bem semelhante

com o que um dia já vi

Mas tudo fica meio Picasso

ou meio Dalí.

Será que eu sonho

quando dentro do sonho

resolvo ir dormir?

E se um dia me perco

ao acordar de um só sonho

e parar por aí?

Será que existe um lugar

em que eu viva outra vida

quando me ponho a sonhar?

E quando adormeço

para não mais acordar?

Será que me prendo neste lugar?

E se lá durmo e sonho com a vida de cá?

Ela volta a existir

como existiam os sonhos

que tinha com lá?

Já é quase de manhã

Fecha a porta do inconsciente

para que não me atormente

Quando eu acordar.

Desenho de Kelly Santos

PARA ONDE VAI TANTA CORAGEM?

Guardo dentro do peito

Uma revolução contida

Vontade reprimida

De romper o sistema

Viver do próprio lema

De só falhar pelo exagero

E viver cada dia

Com muito mais emoção

E guardo dentro do peito

Uma coragem infinda

De enfrentar os mais temidos

Pichar ideais em muro

Fazer visível o que há de errado

Nesses valores em inversão

Mas fica tão bem guardado

Que quando preciso não acho

E toda minha valentia

Se perde em imaginação

Desenho de Kelly Santos