Dia desses, ao me deitar,
inventei de descobrir a janela que beira a cama
Porque tinha
necessidade de acordar assim que o sol acordasse o dia
Mas a forma que as
estrelas se acenderam quando eu apaguei a luz
Me deixou extasiada,
tamanha surpresa que me fizeram.
Deitei de barriga pra
cima
E fiquei observando a
conversa delas
Que davam risadinhas com
suas vozezinhas finas
Lembrei-me da
libélula que espiei outro dia de asas para baixo, alucinada
Em meio ao
pisca-pisca que deixamos ligado no chão.
Nunca pensei que uma
libélula se entregaria tanto
a momentos de extremo
encanto como aquele.
Talvez sua vida, para
mim tão encantadora e leve,
é para ela nada mais
que rotina.
Pensaram está o
inseto, em verdade, agonizando-se
por não conseguir sair
do emaranhado de fios de luz,
mas eu a observei por
longas horas
e ela saía e voltava,
saía e voltava
Estava deveras
brincando,
perdida no tempo e de
seus compromissos noturnos de libélula.
Mas eles gostam de
mostrar que tem ciências das coisas
Para eles a coisa em
si leva muita importância,
Talvez a única importância
Chegam ao ponto de
desfazer a imagem de pássaros pretos brincando de boiar no céu
Porque olham e só
conseguem ver urubus digerindo carniça
E as vezes querem
impor tal ciência
Como se não pudesse
ser tal imagem uma e outra coisa.
Aqui eu passo boas
horas apreciando os pássaros
Acho que eles fazem
estripulias na minha janela porque sabem que lhes dou atenção
Dia desses até
pesquisei e descobri que os bem-ti-vis pequeninos
Que enfeitam o
silencio da cidade, chamam-se cambacica
Mas não houve
felicidade nessa descoberta
Acho que eles
preferem ser chamados de passarinhos.
As maritacas sempre
passam em bando à minha vista
Escandalosas e
verdes,
Escandalosamente
verdes
Fazendo um colorido
tão bonito no céu
que eu ainda não
soube dar nome à sensação que tenho ao vê-las passar.
A única discussão que
tenho alegria em ouvir é das maritacas.
Quando elas pegam pra
encrencar umas com as outras
arranjam um furdunço só
e não param até se
arranjarem bem nos galhos d’árvore.
Ouvi dizer que elas
têm nomes próprios