domingo, 17 de setembro de 2017

NESTE CÉU DE ESTRELAS E AVOADORES


Dia desses, ao me deitar, inventei de descobrir a janela que beira a cama
Porque tinha necessidade de acordar assim que o sol acordasse o dia
Mas a forma que as estrelas se acenderam quando eu apaguei a luz
Me deixou extasiada, tamanha surpresa que me fizeram.
Deitei de barriga pra cima
E fiquei observando a conversa delas
Que davam risadinhas com suas vozezinhas finas

Lembrei-me da libélula que espiei outro dia de asas para baixo, alucinada
Em meio ao pisca-pisca que deixamos ligado no chão.
Nunca pensei que uma libélula se entregaria tanto
a momentos de extremo encanto como aquele.
Talvez sua vida, para mim tão encantadora e leve,
é para ela nada mais que rotina.
Pensaram está o inseto, em verdade, agonizando-se
por não conseguir sair do emaranhado de fios de luz,
mas eu a observei por longas horas
e ela saía e voltava,
saía e voltava
Estava deveras brincando,
perdida no tempo e de seus compromissos noturnos de libélula.

Mas eles gostam de mostrar que tem ciências das coisas
Para eles a coisa em si leva muita importância,
Talvez a única importância
Chegam ao ponto de desfazer a imagem de pássaros pretos brincando de boiar no céu
Porque olham e só conseguem ver urubus digerindo carniça
E as vezes querem impor tal ciência
Como se não pudesse ser tal imagem uma e outra coisa.

Aqui eu passo boas horas apreciando os pássaros
Acho que eles fazem estripulias na minha janela porque sabem que lhes dou atenção
Dia desses até pesquisei e descobri que os bem-ti-vis pequeninos
Que enfeitam o silencio da cidade, chamam-se cambacica
Mas não houve felicidade nessa descoberta
Acho que eles preferem ser chamados de passarinhos.

As maritacas sempre passam em bando à minha vista
Escandalosas e verdes,
Escandalosamente verdes
Fazendo um colorido tão bonito no céu
que eu ainda não soube dar nome à sensação que tenho ao vê-las passar.

A única discussão que tenho alegria em ouvir é das maritacas.
Quando elas pegam pra encrencar umas com as outras
arranjam um furdunço  só
e não param até se arranjarem bem nos galhos d’árvore.
Ouvi dizer que elas têm nomes próprios
Houve beleza nessa descoberta.

Desenho de Kelly Santos

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

NEM SEMPRE HAVERÁ RIMAS


Escrevo picado
Porque acho bonito as palavras empilhadas
Nem sempre haverá rima com o verso de cima
Nem simetria calculada
Que lhe aproxime de uma ou outra
Corrente literária.

Escrevo em filas
Para deixar mais pontas sem nós
Para o verso escapulir quando quiser
E quem o ler se encaixar onde lhe convier.

Divido em versos e estrofes
Mesmo a descrição mais reta
Eis o motivo, confesso:
Apenas para apreciar
As curvas
Da poesia completa.