Moro hoje em uma casa
Feita pra lembrar que tudo é passageiro
Velozmente passageiro
e que especialmente nesta fase da minha vida
estou em trânsito.
Olho para o portão e o que vejo é uma rodovia de fluxo
intenso
E nas costas da casa passa o trem, sempre apitando
para não passar despercebido
para lembrar que ele está passando
assim como a vida
assim como este momento de percurso da minha vida
Diminuindo cada vez mais as bagagens que levo nos braços
Que é para facilitar as mudanças repentinas
Tenho me adaptado para acomodar as bagagens
que se acumulam exponencialmente dentro de mim,
Como se eu tivesse receio de deixar algum detalhe para trás
Moro hoje em uma casa
em que pintinhos viram frangos
e depois galinhas
com muita rapidez
para lembrar que o tempo está passando
Mas que a evolução é contínua
Esta casa, sorte a nossa
Também tem um pomar
Exibindo fertilidade e leveza
Doando frutos, honrando raízes,
Louvando com seus galhos os raros ventos
de toda tarde quente de Periquito
de toda tarde quente de Periquito
Sorte a nossa que atrás do trem corre o Rio
Que se transforma silencioso e constante
Mesmo quando nas temporadas caudalosas.
E assim o tempo pode passar
Que a gente vai equilibrando
o que aprendemos com o trem
com a BR
com os bichos,
com o rio
e com as árvores
que moram com a gente