Caí num mundo de
pessoas oficialmente interessantes
Todo mundo era bom, e
articulado, e viajado, e descolado
Parceria que todo
mundo estava pronto, sabia quem era
E eram entendidos de
tudo
Fui contar a
estranheza a um amigo
Que me advertiu, amigo
que era
Realmente se
preocupar:
Eu era básica demais, sem brilho
e parecia me contentar.
Depois do choque,
fui buscar por aulas de
tudo enquanto há
Imagine você que até
em aula de noções musicais
Eu fui me matricular
Claro que não durou
muito
Não tinha eu alí
E um dia,
Depois de muito me
chatear
Entendi
Que não sou mesmo
poliglota
Sei no máximo o
mineirês
Não tenho um hobby
definido
Não sei jogar xadrez
Não toco nenhum
instrumento
Nem acertar o ritmo
eu aguento
Não almejo grandes
títulos acadêmicos no momento
Não sei os passos de
dança nem das músicas mais famosas
Nem ao menos sei prender
a atenção ao contar uma anedota!
Depois de um mês num
vazio que só
Resolvi aceitar quem
eu não era
E experimentar ser só
esse tiquinho que eu era mesmo
E que costumava
bastar
Foi aí que as pessoas
Conseguiram se
conectar
Aí houve troca,
envolvimento
Como sempre aconteceu
E vez ou outra, vê se
pode?
Meus desacertos
encantam alguém.
O cotidiano pacato que
faço poesia
A dança desengonçada
que faço liberdade
Um jeito muito
(im)próprio de cantar
Que substitui as
anedotas que não sei contar
Pretendo aprender
muito sobre muitas coisas ainda
Estes versos não vem
pregar a beleza da estagnação
Mas não caio mais na
furada
De me buscar em um
padrão
Um currículo pronto
de algum campeão.