Este ano eu não escrevi nenhuma poesia.
Talvez algum verso tenha se formado em minha cabeça
Após ler algum poema, andar pelo quintal
Mas este ano eu não escrevi nenhuma poesia
Um fato inédito, desde 2004 talvez
Isso de não escrever nenhuma poesia
Durante todo o ano
Este primeiro era um poeminha
Sobre um barco que era apreciado pelo mar
De uma atividade de reforço em Português
Eu pedi a meu pai que lesse e adivinhasse o autor
E ele arriscou Cecília Meireles
E desde então eu confiei ter o dom de escrever poesia.
Eu ainda não conhecia o mar naquela época
Nem barco, nem pescador...
Na verdade, no meio deste ano tracei alguns versos sobre o
rio.
Mas ele se sentiu melhor representado em linhas retas, de
forma contínua, como é.
Aí não virou poesia.
Drummond também não conhecia o mar quando escreveu “A lagoa”,
este que foi o primeiro poema que me chamou atenção.
Faltam dois dias para o ano terminar e dentre a ansiedade
pelas coisas não feitas veio essa,
De não ter escrito sequer uma poesia.
Tenho poemas de indignação com a política, de épocas bem
mais brandas,
de afazeres domésticos de épocas menos caseiras, de
autoconhecimento, de períodos de menos convívio comigo mesma.
Mas este ano, de tantas erupções, eu não escrevi poesias.
Um ano histórico, uma pandemia. Tanto medo e mudança e
nenhuma poesia.
Será que engoli todas? Porque eu sei ter visto ela com meus
olhos, mas elas não caíram no papel, eu vi ela se sentando em meu lado por
muitas vezes, mas é como se eu não decifrasse o que ela sussurrou em meu
ouvido, apesar de sentir.
Para que escrevo? Para guardar sensações, momentos? E porque este ano eu não guardaria em uma poesia?